sábado, 3 de novembro de 2007

entrevista com bernardo stumpf

1) Como você ingressou no street dance?
Fui apresentado ao universo da Dança da mesma forma que a grande maioria dos dançarinos de estilos urbanos; através das festas, da Dança informal e popular voltada para a diversão. Após um período de informalidade, senti a necessidade de levar esse gosto pela Dança adiante, quando comecei a praticar Dança em aulas regulares.

2) Quais seus primeiros professores de street dance?
Iniciei minhas atividades em Dança com o professor Guto Muniz e posteriormente Rodrigo Silveira (esses trabalhos, apesar de seguirem linhas completamente diferentes, consistiam numa mistura do Jazz desprendido da preocupação técnica com uma visão do movimento da Dança Hip Hop).

3) Você conhece os estilos de L.A e N.Y? Existem diferenças entre eles? Quais?
Certamente sempre existem diferenças entre estilos de uma mesma manifestação em lugares diferentes. No caso do que é feito em L.A. e N.Y. em relação às Danças de Rua, vejo a diferença não em passos, movimentos, mas, sim na percepção. Os movimentos que são feitos em L.A. e N.Y. são feitos no mundo inteiro, não por plágio, mas por agregação cultural, mas cada grupo social tem sua maneira de enxergar e desenvolver determinada manifestação. Não aponto elementos específicos que os diferenciem.

4) Você acredita que a prática do street no Brasil sofre a influência dos estilos americanos? Por quê?
Sim, influencia total. O que consideramos “Dança de Rua” no Brasil não é Samba, Funk carioca, Jongo e Maracatu. Apesar de termos na nossa cultura, diversas manifestações de Dança, de povos “da rua”, urbanos ou rurais, o que chamamos de “Dança de Rua” são gêneros afluentes do Funk e Hip Hop, mas, isso me parece natural, visto que é uma cultura de berço norte americano sendo compartilhada pelo mundo. O Brasil sempre será lembrado quando o assunto é Samba, nada mais natural que os EUA sejam lembrados quando o assunto é Dança de Rua.

5) O que caracteriza o seu estilo coreográfico?
Eu não trabalho com coreografia há 3 anos. Nesse tempo, meu trabalho se caracterizou por desenvolver linguagens inspiradas nas musicas de videoclipes de artistas Pop. Atualmente meus estudos para retornar as criações coreográficas me levam a um universo mais híbrido em Dança, onde o importante não são as tendências e, sim, o estudo do movimento.

6) O seu estilo é influenciado pelas práticas de L.A ou N.Y? Como?
Sim. Pelas mesmas questões apontadas na pergunta nº 4. Falar de Dança de Rua é falar dos EUA. Não é necessário negar as origens e de uma cultura, porque tudo está ai para ser compartilhado.

7) Seu estilo coreográfico sofreu transformações ao longo de sua carreira?
Com certeza, a medida em que acontece um amadurecimento artístico, certos atos coreográficos perdem sua validade e novas alternativas devem ser encontradas. Sofri muitas mudanças durante os anos em que estive visualizando possibilidades coreográficas.

8) Quais as principais influências de professores, coreógrafos, dançarinos no estilo desenvolvido por você atualmente?
Atualmente venho me influenciando por elementos mais externos nessa idéia de passo e movimento. Hoje em dia, muito mais do que nomes, estilos e passos de Dança, me influenciam as criações musicais, possibilidades de mesclagens e estudos de movimento.

9) A entrada do street dance nas academias e festivais de dança trouxe alguma mudança para a caracterização do street praticado atualmente no Brasil?
Qualquer particularidade de um grupo em uma linha cultural causa mudanças significativas que irão definir a característica do movimento em determinado local. A Dança de Rua brasileira jamais terá exatamente as mesmas características da japonesa ou alemã, porque a visão é diferente, as formas de propagação são diferentes e apesar de academias e festivais de Dança existirem no mundo inteiro, a relação é diferente.
10) Do ponto de vista evolutivo, você considera que o street no Brasil sofreu mudanças? Quais?
Muitas mudanças nos últimos anos. Mas acredito que a grande parte das mudanças não pertença exatamente ao universo evolutivo. A grande parte das mudanças faz parte de um universo de carência informacional em que o cenário brasileiro quer estar. Seguir à risca o que dizem os norte americanos sobre uma cultura que se instalou no Brasil com raízes diferentes, é mostrar que nossas carências são maiores que nossas crenças. Como citei anteriormente, não é necessário negar uma cultura externa, mas sempre existirão visões diferentes, que devem ser explorar e, acima de tudo, respeitadas.

11) Como você caracteriza o street dance hoje nos vários Estados Brasileiros?
Vejo basicamente 3 blocos. RIO / SÃO PAULO / SUL. Três grandes influenciadores, que se influenciam entre si e que também quase isoladamente, criam um jogo de egos que pode ser comparado ao jogo que acontece entre o Brasil em geral e os EUA. Essa relação de ‘certoXerrado’. ‘O Rio está errado porque não segue as regras, São Paulo está errado porque só faz o que o livro de regras diz, o Sul está errado porque distorce tudo’, quando na verdade quem diz o que é o certo ou errado? Não há manifestação errada.

12) Você identifica diferenças de estilo nos vários centros brasileiros?
Partindo da pergunta nº 11, sim, é possível identificar particularidades nos estilos de diferentes centros, da mesma forma que podemos identificar as particularidades da Dança feita em Paris, Berlim, L.A., N.Y., etc.

13) Existe mudança de estilo próprio relacionado ao modismo?
Modismo é sempre visto como ponto negativo. “Fazer os movimentos do vídeo clipe é modismo. Fazer os movimentos do Funk é cultura.” Eu acredito que o modismo se encontra dentro de cada pessoa ou grupo. Qualquer coisa que é feita com propriedade e personificação não pode ser chamada de modismo; formas diferentes de propagação de qualquer linha cultural devem ser respeitadas. O que é estilo próprio? Todos têm seu estilo próprio e todos têm seus estilos interligados. Portanto modismo pra mim é mais um artifício de carência, facilmente ultrapassado pela propriedade.

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